domingo, 18 de janeiro de 2009

Intervenção da Terapia Ocupacional na Osteoartrose

Intervenção da Terapia Ocupacional na Osteoartrose


A Osteoartrose (OA), devido à dor e perda de mobilidade, tem um grande impacto na qualidade de vida e participação ocupacional do idoso, afectando tanto, aspectos físicos, como psicossociais. O processo de Terapia Ocupacional (TO) poderá ter um papel importante nesta situação. (1)

O tratamento de todo o paciente tem um enfoque multidisciplinar que engloba a actuação em equipa do médico, do assistente social, do psicólogo, da enfermagem, do fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional. (1)

Ao terapeuta ocupacional compete a tarefa de análise das actividades de vida diária, instrumentais, educação, lazer e participação social, apropriando ou adequando a execução de tarefas da melhor forma possível, respeitando seus valores e limitações e proporcionando sua independência e qualidade de vida. (1)

Os objectivos de tratamento da osteoartrose (OA) são minimizar a dor; melhorar a capacidade funcional, isto é, aumentar a mobilidade das articulações atingidas e evitar a atrofia dos músculos relacionados com as referidas articulações; prevenir, corrigir ou minimizar o efeito das deformidades e aumentar os conhecimentos do paciente com OA, bem como sua família, sobre a doença e os melhores métodos de lidar com os efeitos físicos, psicológicos e funcionais desta. (2)

O plano de tratamento do paciente com OA deve ter em conta a natureza crónica e progressiva da doença. Deve ser desenhado individualmente, ser baseado na severidade dos sintomas, do estado geral de saúde, estilos de vida e objectivos pessoais do paciente. Este deverá ser um participante activo no processo de tratamento para que continue a aplicar os métodos mesmo depois do término do tratamento. Paciente e família devem perceber o processo da doença e os métodos de tratamento. (2)

Existe uma ampla gama de ajudas e equipamentos disponíveis para que o paciente possa levar uma vida mais independente possível e estar mais satisfeito com a sua vida.
(3)

Educação Terapêutica

A educação terapêutica através de métodos de conservação de energia, protecção articular, simplificação de tarefas e aconselhamento sobre uso de tecnologias de apoio, é uma ferramenta chave que optimiza o envolvimento do idoso com osteoartrose em ocupações respeitando características individuais e prevenindo o agravamento da condição. (1)

Conservação de energia e Protecção articular

Manter a força muscular e amplitude de movimento articular.

Manter o máximo de amplitude articular possível permite um funcionamento óptimo muscular devido à vantagem biomecânica no uso das articulações e prevenindo o aparecimento de contracturas. O aumento da força muscular peri-articular permite uma maior estabilização das articulações afectadas bem como uma redução da dor. Estimular a prática de exercícios aeróbios (de longa duração e pouca intensidade) tal como caminhar, permite a redução de dor e aumento da função principalmente aos pacientes com OA ao nível das ancas e joelho. (4)

Alguns autores acrescentam que eventualmente a realização de actividades diárias, como varrer ou cozinhar, pode assistir na rotina da manutenção da função física, mas nunca substituir a prática diária de sua execução. (1)

Evitar posições que favoreçam deformidades ou pressão excessiva sobre as articulações.

Na OA a cartilagem é muito fina para proteger a articulação contra cargas sucessivas, o que leva a efeitos destrutivos na cartilagem. Os factores que levam à fadiga muscular e fraqueza na OA reduzem a eficácia do sistema de absorção de choques. Neste sentido, o modo usual de fazer as coisas poderá ter de sofrer alterações de modo a que as articulações sejam usadas nas suas posições mais estáveis. Os pacientes devem ter conhecimento da fisiologia articular a fim de perceberem de que modo o excessivo impacto de carga nas actividades diárias, como transportar pesos, afecta as suas articulações. (2, 4)

Usar articulações maiores e mais fortes na execução das tarefas.

Utilizando-se princípios de adequada mecânica corporal, orienta-se o paciente para quando se abaixar para apanhar objectos no chão usar a flexão de joelhos e não de tronco, carregar a bolsa no ombro ou antebraço e não na mão, carregar panelas ou qualquer objecto de peso com as duas mão e utilizar as palmas da mão para apanhar uma caneca em vez dos dedos, por exemplo. (1, 2)

Utilizar cada articulação em seu plano anatómico e funcional mais estável

O paciente deve tentar manter uma postura recta e um alinhamento corporal, procurando, por exemplo, sentar-se em cadeiras com apoio de braços e utilizar barras de segurança na casa de banho. Nas articulações que estão comprometidas, quando possível, o uso de talas de posicionamento é indicado para manter a estabilidade durante a realização de uma actividade. (1)

Equilíbrio entre repouso e actividade

É um dos princípios de maior dificuldade de incorporação no dia-a-dia pelo paciente. Sabe-se que o uso apropriado e eficiente de repouso durante actividades diárias é a maneira mais efectiva de acção contra a progressão da doença. O descanso ajuda no processo corporal de combate à doença sistémica, fornece resistência para uma actividade e aumenta a resistência de grupos musculares específicos, encorajando o paciente a alargar o seu desempenho. (1)

Evitar actividades que mantenham uma mesma posição por tempo prolongado

Recomenda-se que a posição de execução para a realização de uma tarefa seja mudada a cada 20 minutos, ou que o paciente a interrompa para se alongar. Desta forma, qualquer actividade que tenha duração superior a 10 minutos deve ser realizada na posição sentada, posição esta que não deverá exceder os 20 minutos, devendo, neste caso, o paciente interrompe-la e levantar-se para alongar as estruturas músculo-tendinosas. (1)

Nunca iniciar uma actividade que não possa ser interrompida

A interrupção frequente de uma tarefa impede o cansaço de grupos musculares e o stress físico sobre as cápsulas articulares e ligamentos. São dadas orientações para o paciente não se manter de pé enquanto toma banho, não andar por longos períodos e não carregar pacotes por longas distâncias. (1)

Respeitar a dor

A dor é uma forma do corpo dar sinal que algo está errado. Dor articular produzida no desempenho de actividades é um importante sintoma que poderá indicar stress articular devido a sobrecarga dos limites de conforto respeitantes da articulação. Muitos pacientes com OA podem sentir que a podem suportar, mas ignorar a dor muitas vezes leva a mais dor. O paciente deve ser instruído a diferenciar dor de desconforto. O desconforto pode ocorrer durante o tratamento e desaparece durante o período de repouso, enquanto a dor persiste por mais de 1 hora após o término de uma actividade o que indica que esta deverá ser modificada. (1, 2, 4)

Na aplicação prática dos princípios e métodos, a educação do paciente para evitar transportar qualquer peso adicional ao peso do seu próprio corpo efectua mudanças em acções que visam à redução da força necessária para um movimento e agrega a utilização de equipamentos de assistência bem antes de realmente serem indispensáveis. Assim, o transporte de utensílios e objectos do quotidiano deve ocorrer por intermédio de carrinhos de uso doméstico que possuam rodinhas ou outro dispositivo de ajuda, facilitando o transporte. Orientações especificas para a execução de actividades que exijam preensão de força, como para girar maçaneta de porta, também devem ser cuidadosamente implementadas e acompanhadas, demonstrando ao paciente que é possível adequar-se as condições ergonómicas mais favoráveis. (1)

É preciso alertar para a suspensão de actividades. Qualquer actividade ou tarefa é excluída do repertório de acções do paciente somente se realmente for necessário, pois uma substituição da acção é sempre preferida em vez de se implementar um declínio na funcionalidade do paciente. (1)


Simplificação de tarefas

É implementada após análise da actividade e pode ser aplicada de forma a gerir tanto tarefas domésticas como tarefas em ambiente externo. Neste sentido, propõe-se o planeamento das actividades com antecedência; a facilitação do alcance de equipamentos e utensílios; organização de depósitos e despensas; supressão de etapas desnecessárias (que não afectem o resultado final); divisão do trabalho ao longo da semana, redução dos deslocamentos no ambiente em que a tarefa se irá desenvolver (por exemplo, na cozinha); uso adequado de mecânica corporal nas posturas sentada, de pé ou ao transportar objectos; preferência pelo uso bilateral das mãos; dar prioridade a equipamentos que se movam por rodas ou funcionem por energia eléctrica em vez de manual (como carrinhos de transporte ou batedeira); manter o conforto; trabalhar devagar; solicitar o auxílio de terceiros sempre que for conveniente, e usar movimentos corporais simples, variando as posições assumidas. (1)

Aconselhamento sobre o uso de talas

O aconselhamento sobre a utilização das talas visa a que a sua utilização apenas traga benefícios para o utente, uma vez que, uma má utilização da mesma pode levar a um aumento de deformidades. (2)

Adaptações ambientais

Nem todas as pessoas com OA compreendem que mudanças no seu contexto podem prevenir um excesso de stress nas articulações e permitem a continuação de ocupações significativas. Por exemplo, pode ser difícil ao paciente abdicar de uma cadeira confortável mesmo que esta dê pouco suporte à coluna, e leve a uma flexão excessiva das articulações da anca e dos joelhos. O paciente deve ser ensinado a sentar-se numa cadeira confortável que possua apoio de braços, assento elevado, se necessário, e um encosto firme de modo a dar suporte e prevenindo mais stress nas estruturas articulares já por si enfraquecidas devido à OA. Outras estratégias como colocar corrimãos em ambos os lados das escadas, colocar objectos de uso frequente ao nível da cintura, substituir os tapetes por tapetes aderentes ou fixa-los ao chão, colocar barras de apoio que facilitem as transferências e a mobilidade na banheira ou elevadores de sanita evitam o uso em excesso das articulações afectadas, proporcionam uma melhor postura e evitam a ocorrências de acidentes. (4)

O uso de tecnologias de apoio pode ajudar a prevenir um agravamento das articulações afectadas pela OA (Quadro 1). (4)

Talas

Muitos pacientes requerem o uso de ortóteses para manter ou aumentar a dependência funcional. Em alguns casos a necessidade do uso da tala pode ser temporária para auxiliar ou proteger uma determinada articulação, enquanto em outros casos a necessidade pode ser permanente se há perda de função. (1)

Os objectivos da utilização de talas são o suporte da articulação numa posição óptima de funcionamento, providenciar uma posição estável de descanso à articulação, minimizar dor e prevenir deformidades. As talas são comummente utilizadas no pós-operatório, visando a manutenção da intervenção cirúrgica ao mesmo tempo que permitem mobilidade controlada e garantem o alinhamento articular, auxiliando o alongamento dos tecidos e impedindo ou minimizando as aderências dos tecidos. (1, 2)


Precauções de Tratamento

Evitar fadiga;

Respeitar dor;

Evitar actividades estáticas ou stressantes;

Limitar a aplicação de calor a 20 minutos;

Usar exercícios resistidos com precaução e nunca em articulações instáveis;

Estar alerta às diminuições sensoriais no idoso. (2)


Bibliografía

1 - Cavalcanti A, Silva P, Assumpção T. Doenças Reumáticas. In: Cavalcanti A, Galvão C. Terapia Ocupacional Fundamentação & Prátca. Rio de Janeiro: guanabara Koogan; 2007. p. 240-243.

2 - Buckner WS. Arthritis. In: Pedretti LW, Early MB. Occupational Therapy: Practice Skills for Physical Dysfunction. 5th ed. St. Louis: Mosby; 2001. p. 821-831.

3 - Lázaro del Nogal M, Benegas JP. Patologías osteoarticulares en el anciano. In: Ribera JM, Veiga F, Torrijos M. Enfermeria Geriatrica. Madrid: IDEPSA; 1991. p.330.

4 - Yasuda YL. Rheumathoid Arthritis and Osteoarthritis. In: Trombly CA, Radomski MV. Occupational Therapy for Physical Dysfunction. 5th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2002. p. 1019-1022.


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